Há 3 anos, quando deixei o mundo corporativo para me dedicar totalmente ao meu negócio, me confrontei com uma série de desafios que estão surgindo agora para muitas pessoas nesse momento de lockdown causado pela pandemia do corona vírus.
Foram profundas transformações e aprendizados, um grande processo baseado em amor próprio, autoconhecimento e compartilhamento, que hoje me fazem ter mais serenidade e resiliência para enfrentar situações novas, imprevisíveis e que fogem do nosso controle. Percebo quatro ações que se repetem neste momento que foram essenciais durante a minha transição de carreira e de vida, são elas:
DESACELERAR
Quando eu trabalhava em empresa, nunca tinha tempo para nada, pelas longas jornadas de trabalho, pelo cansaço mental que tinha ao chegar em casa, pelas longas horas em deslocamento de casa para o trabalho. Não conseguia cuidar da saúde, não conseguia me alimentar bem, não conseguia cuidar da casa, não conseguia sair com os amigos, não conseguia fazer exercícios, não conseguia ler um livro, nem pensava em meditar, me desenvolver espiritalmente, olhar para quem estava ao meu redor ... era uma espécie de anestésico que tirava de mim a responsabilidade de viver, já que a minha função era trabalhar, ter dinheiro e terceirizar todo o resto.
Quando me vi fora do escritório, me tornei dona do meu tempo. Aprendi a observar meu corpo, meus ciclos, minha alimentação, minhas emoções, sei que horas o sol bate no meu sofá, me permito ficar um tempinho na janela olhando as nuvens passando e sei que as pausas me ajudam a ser mais produtiva. Aprendi também que o trabalho rende melhor à tarde/ início da noite, que gosto de me exercitar pela manhã, que preciso de metas semanais e dias mais flexíveis para ver sentido no meu trabalho... Sai do modo automático, e esse é um caminho sem volta! Tudo gera uma reflexão e eu não tento mais abafá-la, acolho de coração aberto para que possa evoluir com cada uma delas. Aprendi que ler me acalma e me provoca questionamentos muito interessantes, que a música pode ser uma boa companheira em dias solitários, que o momento ideal de ouvir podcasts é durante o banho e que gosto de ver 2 capítulos de séries de suspense ou um filme à noite...
Já pensou no que te inspira? Te alimenta? Te faz crescer? Te faz SER?
FICAR EM CASA
Eu amava ir para o escritório, achava que era pela interação com as pessoas, hoje acho que para fugir da responsabilidade de me conectar comigo mesma. Quando a empresa que eu trabalhava começou um projeto de home office uma vez por semana, fui firme ao dizer que não ia aderir! Eu não sabia o que fazer da minha vida em casa, não sabia nem fazer minha própria comida, minha casa vivia bagunçada e eu não queria ficar lá... não lembro exatamente como foi, mas aderi ao home office e descobri que podia ser bem legal desde que eu tivesse disciplina e objetivos muito claros. Tive um tempo para me habituar ao home office que as pessoas não estão tendo agora, mas você pode testar o que funciona para você! Faça de um jeito a cada dia e veja o que te faz ser mais produtivo e consciente (sim, vc precisa cuidar de si também). Para mim, é muito importante ter rotina, acordar todos os dias no mesmo horário, tomar café, fazer exercícios, me arrumar (ficar de pijama faz com que a mente tenha dificuldade para processar o momento de começar e de parar), trabalhar na sala (com mesa e cadeira, eventualmente, quando é uma atividade mais criativa, me permito ir para o sofá. Nunca, nunca mesmo, trabalho no quarto - já que minha configuração de casa permite - se vc só tem o quarto, evite trabalhar na cama e preserve seu local de relaxamento!), pausa para o almoço, pausa para o lanche, janelas abertas e local arejado para ver o dia passar, a noite cair e ajudar a saber quando parar de trabalhar e virar a chave para a diversão. É essencial ter um lugar limpo, organizado e que te faça sentir bem! Sua casa nunca deve ser comparada a uma prisão, ela deve ser o local onde você se sente melhor no mundo!
Lembrando que todas as dicas são para pessoas privilegiadas que podem estar em casa, podem manter seus trabalhos remotamente, ter ambientes controlados e rotina flexível... e isso me leva ao próximo item.
TER CONSCIÊNCIA COLETIVA E EMPATIA
Entender que as suas ações podem impactar a vida de outras pessoas e ter cuidado para que seja sempre um impacto positivo, além de saber se colocar no lugar do outro e sentir como ele sente. Parece simples, mas são pensamentos bem difíceis quando estamos presos nas nossas rotinas cheias de ego e vontade de ter mais, mais e mais, sem freio e sem limites!
Estamos vivendo um período crítico em que fica evidente o déficit de empatia e falta de consciência sobre o papel de cada um na sociedade, "quando a farinha é pouca, meu pirão primeiro"... NÃO!! Só sairemos dessa crise de saúde pública e financeira juntos, quando cada um entender a dimensão do seu privilégio, o que pode fazer para ajudar quem realmente precisa e que não adianta querer se salvar sozinho! Esse vírus que surgiu a partir da ação de uma pessoa na China deixa muito claro o quanto pequenas ações podem reverberar coletivamente, isso vale para o mal mas também para o bem. Lembre-se disso quando você achar que não adianta fazer algo porque você é só um... o oceano é feito por milhares de gotas únicas, temos um enorme poder de transformação coletivo e agora é o momento de invocá-lo. Olhe para quem está perto de você, seus funcionários, prestadores de serviço, sua equipe e preze pelo bem estar dessas pessoas... mantenha os salários, o plano de saúde, ajude em campanhas, faça doações enquanto puder. Não seja mesquinho! Não seja egoísta! Tenha consciência do seu privilégio! Não duvide dos médicos, da ciência, nem do poder de adaptação e reconstrução do ser humano! Cuide dos idosos e doentes, se puder se manter afastado fisicamente deles, se mantenha, mas se mantenha presente com afeto, palavras e amor!
VIVER COM MENOS
Mais uma vez me dirijo a uma bolha de privilégio da qual eu faço parte. O lockdown vai te mostrar que você pode viver com menos coisas, menos ostentação, menos luxo, menos festas, menos viagens, menos roupas, menos bolsas, menos sapatos... Você pode reaproveitar o resto de comida de ontem no almoço de hoje, você pode parar de fazer a unha toda semana ou aprender a fazer você mesmo, você pode se divertir com um jantar e um vinho em casa, você pode não ter carro, ou ter um carro mais simples, você pode morar numa casa menor, você consegue desapegar de grande parte do seu armário... Isso vai te mostrar que você achava que precisava de 2X para viver, mas que de verdade X é suficiente... Não viva com a corda no pescoço para sustentar status e aparência, tenha uma reserva de sobrevivência que vai te deixar mais tranquilo para enfrentar alguns meses de vida sem receita! (mais uma vez, estou falando com pessoas que podem fazer isso! E não com quem precisa ganhar no almoço o dinheiro do jantar!).
Vi esses dias uma frase que dizia "Se você acha um absurdo pessoas concentrando papel higiênico, imagine até você saber que existe uma elite global que concentra a riqueza do mundo?". Isso não é posicionamento político, é ter consciência!
Estamos vivendo um momento crucial para o futuro da humanidade, a natureza já não aguenta mais, a nossa saúde não aguenta mais, a nossa mente não aguenta mais viver como vivíamos antes... Evoluir é doloroso, não estou sendo romântica a ponto de achar que da noite pro dia estaremos num mundo melhor, pelo contrário, acho que vai piorar muito antes de realmente melhorar e que devemos respeitar demais as vidas que estão sendo perdidas.
O meu processo de mudança de vida já dura anos e acho que nunca terá fim, mas já me tornei alguém mais feliz... E lidar com leveza (na medida do possível, claro) com o imenso desafio atual mostra o quanto foi uma transformação positiva.
Vamos juntos superar essa crise e nos tornar pessoas melhores!
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